quarta-feira, 7 de novembro de 2007




PERFORMAR-ME A TI performance
A Oportunidade do Espectador_Dogma Project (Porto)
JOANA CAMPOS SILVA (PT)
http://www.fugaemmim.blogspot.com

3 Nov/ 19h403rd Nov/ 7:40pm
Transforma, Praça do Município – 8, Torres Vedras

Roger diz: Já estou em casa. Não pude fazer mais nada… Eu só estive na Transforma até às 17h. Workshop em Almada até agora. Joana diz: E se não houver piano, posso ir aí sem apresentação? Roger diz: Claro que podes vir. Eu quero muito que venhas. Mas porque é que não hás-de apresentar nada? Joana diz: Porque não há condições para apresentar o que quero. Roger diz: Joana, eu vou ter que me repetir novamente: o trabalho com o “Dogma” implica isso mesmo. Que nenhuma catástrofe, por mais estúpida que seja, invalide que "te apresentes". Eu percebo perfeitamente a postura dos teus amigos. Mas eles recusarem-se a vir (que eu aceito, a culpa não é necessariamente deles) é completamente anti-“Dogma”. Eu não "comprei" o teu projecto; eu convidei-te a apresentares o teu projecto de acordo com as regras do “Dogma”. Os teus amigos não têm culpa, mas isto que está a acontecer é sintomático de uma coisa: eles não estavam preparados para trabalhar com o “Dogma”. Joana diz: Não é o “Dogma”. Temos de ser realistas. Ontem tínhamos tudo. Esta semana não temos nada. Há um compromisso! Roger diz: Isso não é verdade. Só não tens o piano. Tudo o resto tens. Joana diz: Sim, mas sem piano, não faz sentido tar lá o Zé. Roger diz: Trabalhar nesse sentido, em que o projecto depende de coisas como um piano e não de uma ideia, não é “Dogma”, lamento. Tenho mesmo que reforçar este aspecto. É a única coisa que posso fazer neste momento em relação ao projecto, para o proteger e para te proteger a ti também. Joana diz: O meu projecto não depende de um piano... Depende do meu espectador, que por sua vez depende de um piano. É diferente. Roger diz: Continuo a dizer-te que não há nada que, no contexto do “Dogma”, justifique uma desistência. A menos que seja falta de compreensão do próprio “Dogma”, mas isso é outra conversa... Porque nesse aspecto tivemos imensas discussões: tu fizeste o workshop, eu ajudei-te na tua performance de Maio... Joana diz: Eu vou. Eles não vão. Tenho um compromisso com eles que foi quebrado. Isso preocupa-me. Roger diz: Estabeleceste com eles um mau compromisso, em termos meramente dogmáticos. Eu alertei-te para esse facto há muito tempo. Tu nunca poderias ter trabalhado com eles nessa perspectiva. Não estou a pôr em causa as tuas ideias; não te convidei para este projecto por acaso...Joana diz: Até posso ter alguma culpa, mas a culpa maior está na organização... Nunca se avisa na véspera que não há material. Não se anda aqui a brincar. Estão pessoas e palavras em jogo. Roger diz: Não estás a ser justa, lamento. Se eu te tivesse dito há duas semanas atrás, teria acontecido a mesma coisa. Os teus amigos teriam dito que não queriam fazer sem piano. E mais duas semanas a procurar pianos não garantiriam que ele aparecesse... A organização fez o que pôde, mas não há dinheiro para alugar pianos. É simplesmente impossível. Tinhas que estar preparada para ultrapassar situações como esta... Joana diz: Eu consigo moldar-me. Agora, moldar-me e pedir a mais duas pessoas que se moldem... É muito difícil. Roger diz: Mas aí é que está o problema, Joana. As duas pessoas que convidaste deviam estar preparadas para se moldarem desde o início! E não estavam. Por isso não podes culpar a organização. Mais: de acordo com o “Dogma”, eles deviam até estar preparados para acharem piada a este sucedido, e não o olharem como um entrave. Todo o “Dogma” reforça o valor do contexto. É o contexto que dá forma aos projectos, e não o contrário. Trabalhámos tanto isto Joana! Joana diz: Fui eu que falhei. Roger diz: Sim, mas não tens que te sentir mal com isso. Vens e trabalhas com isso. Porque eu não assumo isso com falhanço. Não há falhanços nem sucessos no “Dogma”. Tu tens uma coisa fantástica contigo, que eu admiro, que é a tua capacidade de te moveres e de te empenhares muito nas coisas. Isso é realmente louvável. Mas o “Dogma” pede-te justamente para não tentares ser "melhor". Lembras-te do "O melhor não é necessariamente bom"? É isso. Joana diz: Vou fazer uma performance que nada tem a ver com aquilo que ando à procura? Eu ando a trabalhar com duas pessoas que fazem a minha cena funcionar. Roger diz: O que andas à procura precisa de um piano? Ou o que andas à procura precisa de ti e das tuas ideias? Não posso admitir que dependas de outras pessoas e de tecnologias para fazer valer o teu trabalho. É que não posso admitir mesmo. Por muito que as pessoas sejam brilhantes e por muito que a tecnologia seja fantástica. Joana diz: Vou falar com eles e digo: foi muito bom enquanto durou, mas dia 3 vou apresentar outra coisa. Não é justo! Roger diz: Mas tu não vais apresentar "outra coisa". Não percebo essa separação. No dia 3 vais contar a história do processo, que é o que é justo, para ti e para o “Dogma”. Trata-se de uma questão de "justiça performativa". E o projecto segue. Joana diz: Ainda por cima está escrito: piano Renato, electrónica Zé. Quando as pessoas lá forem, só vão ver corpo. Roger diz: Isso não me preocupa nem um bocadinho. Tu chegas e dizes porque é que aquelas pessoas não estão ali. Joana diz: Isso és tu que tens estofo. Eu não tenho estofo, nem sou artista. Roger diz: Tu não estarás ali sozinha! Estão mais 5 pessoas a trabalhar o mesmo “Dogma”. Joana diz: Vou publicar esta conversa. Roger diz: Claro que vais. Bem-vinda de volta ao “Dogma”. Joana diz: Vou falar com eles. Roger diz: Era bom um dia falarmos todos com calma sobre estas questões. Tenho a sensação muito nítida que eles não têm noção do que significa trabalhar com o “Dogma”. Nem têm que ter! Eles podem nem estar interessados, o que me parece legítimo. Mas se calhar era bom falar-se de tudo direitinho... Joana diz: É óbvio que quero continuar com este projecto. Roger diz: Não esperava outra coisa de ti.
[ conversa mantida via MSN,na noite de 30 de Outubro de 2007 ]

Performance: Joana Campos Silva
Agradecimentos: Renato Diz, José Alberto Gomes

Biografia

Joana Campos Silva foi a última designação que dei ao meu nome artístico, porque pelos vistos precisava de um que soasse a "artístico". Nasci a 16 de Abril de 1986, em Vila Nova de Gaia e ao que parece tinha 2,5 quilos e cabia numa caixa de sapatos. Sou descendente de família angolana, mas se me virem, nada tenho a ver com Angola, a não ser a minha forma de ser e o modo como me "balanço" na dança. Desde que me conheço, fui sempre ligada às artes, chegando ao cúmulo de desenhar na casa-de-banho. A necessidade de desenhar foi sempre muita, mas o que mais precisei foi de ser diferente. Os meus pais deram-me a oportunidade de estudar na Escola Artística Soares dos Reis, no Porto. Entre cursos e cursinhos, liguei-me bastante à pintura e à animação. Mas como sou apaixonada por muitos tipos de arte, a produção de eventos passou a ser o caminho a seguir. Por esse motivo, candidatei-me ao curso de Som e Imagem na Universidade Católica Portuguesa, que é o que actualmente frequento. Desde que entrei para a faculdade, a minha vida mudou radicalmente. O primeiro ano levou-me para o mundo do design, que resultou num 1.º prémio com a criação de um logótipo para um congresso diocesano. O segundo ano levou-me para o mundo da fotografia. E o terceiro ano para o mundo da performance. Ou seja, abandonei por completo a ideia de ser produtora de moda e abracei estas áreas. Porém, a que mais se evidencia é a fotografia, através de exposições e concursos. A exposição mais recente foi feita na arte na leira e intitulei a obra de "tacto", resultante de uma paixão pictórica pelas nuvens e o modo como o céu se compõe. Julgo que por todas as áreas que vá percorrendo, a fotografia nunca me vai abandonar, é quase como uma necessidade de haver registo "em tempo real", porque a minha vida é uma performance, eu ando sempre à procura da resposta certa, para o momento certo. E a máquina fotográfica é o auxílio exemplar para essa procura.»


Roger says: I’m already home. There was nothing else I could do…I just stayed at Transforma utill 17h. Workshop in Almada up till now. Joana says: And if there’s no piano, can I go there without making a presentation? Roger says: Of course you can. I want you to come very much. But why shouldn’t you present something? Joana says: Because there are no conditions to present what I want. Roger says: Joana, I will have to repeat myself again: the work with “Dogma” implies all that. No catastrophe, even a very stupid one, should stop you from “present yourself”. I understand perfectly your friends’ attitude. But the fact that they refuse to come (which I accept, it’s not necessarily their fault) is completely anti-“Dogma”. I didn’t “buy” your project; I invited you to present it according to the “Dogma” rules. It’s not your friends’ fault, but what is happening means something: they weren’t prepared to work with “Dogma”. Joana says: It’s not about “Dogma”. We have to be realistic. Yesterday we had all. This week we have nothing. There’s a compromise! Roger says: That isn’t true. You just don’t have the piano. You have all the rest. Joana says: But without piano, there’s no sense having Zé there. Roger says: To work in that way, in which the project depends on things like a piano e not on an idea, isn’t “Dogma”, I’m sorry. I do have to stress this aspect. It’s the only thing that I can do at the moment about the project, to protect it and to protect you. Joana says: My project doesn’t depend on a piano…Depends on my spectator, which depends on a piano. It’s different. Roger says: I keep on saying that there’s nothing, within the context of “Dogma”, that justifies a withdrawal. Unless there’s no understanding of “Dogma” itself, but that’s another story…We had a lot of discussions on that: you made the workshop, I helped you on you performance in May… Joana says: I go. They don’t go. I have a compromise with them that was broken. That worries me. Roger says: You made a bad compromise with them, in merely dogmatic terms. I warned you about it a long time ago. You could have never worked with them on that perspective. I do not doubt of your ideas; I didn’t invite you by chance… Joana says: Maybe it’s my fault also, but the association has most of the fault… you don’t tell people in the day before that there’s no material. This is serious. We’re talking about people and words. Roger says: Sorry, you’re being unfair. If I had told you two weeks ago, it would have happened the same. Your friends would have told you that they wouldn’t do it without the piano. And two more weeks looking for a piano doesn’t mean we would found one… The association did what was possible to do, but there’s no money to rent a piano. It’s impossible. You should be prepared to overcome this kind of situation…Joana says: I can adjust myself. But, to adjust myself and ask two other people to do it…It’s very hard. Roger says: But the problem is right there, Joana. The two people you invited should be prepared to adjust right from the beginning! And they weren’t. So, you can’t blame the association. Plus: according to “Dogma”, they should be prepared to laugh of it, and not to look at it as an obstacle. All “Dogma” stresses the importance of context. It’s the context that shapes the projects, and not way round. We worked so much on this Joana! Joana says: I was the one who failed. Roger says: Yes, but you don’t have to feel bad about it. Come and work with that. Because I don’t see it as a failure. There’s no failures or sucesses in “Dogma”. You have a wonderful thing, which I admire, it’s your ability to move and to engage. That is really praiseworthy. But the “Dogma” asks you precisely to not to try to be the “best”. Do you remember of “The best is not necessarily good”? That’s it. Joana says: I’m going to do a performance that has nothing to do with what I’m looking for? I’ve been working with two people that make things work. Roger says: What you are looking for needs a piano? Or what you are looking for needs you and your ideas? I can’t admit that you depend on other people and technologies to make your work worthy. Even though people are brilliant and the technology fantastic, I really can’t admit that. Joana says: I’m going to speak with them and say: it was good while it lasted, but on 3rd November I’m going to present something else. It’s not fair?! Roger says: but you are not going to present “something else”. I don’t understand that division. On the 3rd you’re going to tell the story of the process, that’s what’s fair, to you and to “Dogma”. It’s a question of “performative justice”. And the project continues. Joana says: But is written: piano Renato, electronics Zé. People will only see the body. Roger says: That doesn’t worries me at all. You come and say why those people aren’t there. Joana says: You have the guts to do it. I don’t, I’m not even an artist. Roger says: You won’t be alone! Other 5 people are working the same “Dogma”. Joana says: I’m going to publish this conversation. Roger says: Of course you will. Welcome back to “Dogma”. Joana says: I’m going to speak with them. Roger says: one of these days we should all talk quietly about these questions. I have the feeling that they don’t know what means to work with the “Dogma”. And they don’t have to! They might not even care, what seems legitimate. But maybe it was good to set things right…Joana says: It’s obvious that I want to continue this project. Roger says: I wasn’t expecting other thing from you.
[conversation via MSN, on the night of 30 October 2007 ]


Performance: Joana Campos Silva
Special Thanks to: Renato Diz, José Alberto Gomes

Biography

Joana Campos Silva was the last designation that I gave to my artistic name, because it seems that needed one that sounded "artistic ". I was born on April 16, 1986, in Vila Nova de Gaia and it seems that I had 2,5 kilos and that I fitted in a box of shoes. I am descended from an Angolan family, but if you look at me, I have nothing to do with Angola; except for my of being and the way I "swing" in dance. Since I know myself, I’ve always been connected to arts; my highest point was to draw in the bathroom. I always had this need to draw, but what I really needed was to be different. My parents gave me the chance to study at Escola Artística Soares dos Reis, in Porto. Among many courses, painting and animation were the things that I most liked. But since I love many kinds of art, event production started to be the way to follow. For that reason I applied for the Sound and Image course at Universidade Católica Portuguesa, and that’s what I’m doing now. Since I got into faculty, my life changed radically. The first year took me into the world of design, and the creation of a logo to a diocesan congress made me won a 1st prize. The second year took me into the world of photography. And the third year took me into the world of performance. I mean, I completely abandoned the idea of being a fashion producer and embraced these areas. However, photography is the most evident one, through exhibitions and contests. The most recent exhibition was made on arte na leira and the work was called "tacto", being the result of this pictorial passion for clouds and for the way the sky forms itself. Even if I work in all these areas, photography is the one that will always be present, it’s almost like a need to have a “real time” record, because my life is a performance, I’m always looking for the right answer, to the right moment. And the camera is the best thing to help me on that search.”



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