LIFE PROJECT instalação installation
A Oportunidade do Espectador_Dogma Project (Lisboa)
ARTUR FÉLIX (PT)
www.lifeprojectjournal.blogspot.com
2 Nov/ 18h30 - 21h00 abertura
2nd Nov/ 6:30pm - 9pm/ opening
3 Nov/ 14h30 - 19h00/ exposição
3rd Nov/ 14:30pm - 7pm/ exhibition
4 - 17 Nov/ Seg - Sáb/ 10h - 19h00/ exposição
4th - 17th Nov/ Mon - Sat/ 10am - 7pm/ exhibition
Transforma, Praça do Município – 8, Torres Vedras
Começo por registar a saída da casa que partilhámos. Fotografo metodicamente todo o processo, os objectos, o antes e o depois, as malas, as caixas, o que se vê da janela, a mudança, a viagem, as minhas coisas na garagem da minha mãe. E escrevo, muito. Este registo tornou a situação mais real. Porque me exponho? A origem está na ruptura de uma relação. O que me levou à exposição foi uma falha na comunicação. Falo da ruptura com muitas pessoas mas não falo com quem a provocou. Percebo que estou a ritualizar uma situação à qual não consigo reagir. Para não paralisar, tento rodear-me de amigos, invento rotinas, faço e publico. Tento perceber o que faço e porquê. Vou perguntando e obtenho mais perguntas que me fazem perceber algumas coisas. Percebo que em miúdo queria ser um artista (4 anos, confirmado pela minha mãe). Percebo que a relação que tinha preenchia isso. Projectei-me no outro. O outro fazia por mim e o pouco que eu fazia era para o outro. Não tendo onde me projectar, decido fazer e expor. Empenho-me e quando termino (?) fico realizado. Sinto-me melhor ou, pelo menos, vivo. A ter um objectivo, será sentir-me vivo, sentir-me melhor. Vou publicando num blog que já tinha e, a partir de um dado momento, pareceu-me fazer sentido mudar-lhe o nome. Decido começar um novo. Começo a procurar coisas que tinha feito, tento organizar-me. Assumo que sou um autor a expor. Uma espécie de tentativa, em parte por me sentir perdido vocacionalmente, em parte por sugestão de várias pessoas. Escrevo e faço coisas que para além de pessoais expõem a privacidade de outros. Tenho pudor e selecciono o que publico. Há portanto consciência que outros, e em particular quem causou a ruptura, possam ver o que publico, pinto e colo nas paredes da rua. Exponho-me para mim, para os meus amigos, para quem não conheço e para o outro. Esta exposição é uma tentativa de comunicação. Pergunto quem sou, peço ajuda e compreensão, ou piedade. Mostro a todos que sou igual a todos. E tento ter uma conversa com o outro. E, quando termino este texto, percebo que o meu primeiro objectivo é terapêutico. Faz-me bem fazer. Também foi objectivo não deixar morrer o amor, agora é ultrapassá-lo.
Concepção e apresentação: Artur Félix
Biografia
Pergunta: Este e-mail é genérico, mas se o recebeste é porque de alguma forma és importante para mim. Encontro-me num processo complicado de crescimento (penso que se chama vida), e quero a tua participação activa. Gostaria de te colocar uma questão: Quem sou? / O que pensas de mim? / Como me definirias? Podes responder ou não. Podes enviar-me uma palavra, um texto, teu, de outro... Podes fazer um desenho ou recortar uma revista. Um bordado, um bolo... usar a liberdade. Se responderes ao meu desafio, quando me enviares o resultado por favor envia também o teu nome completo, data de nascimento, formação, ocupação e resposta à pergunta: "Quando eras pequeno/a, o que querias ser?" Obrigado. Artur Félix da Cruz
Resposta: És o Artur, tens 30 e não sei quantos (poucos) anos, estudas Arquitectura (vais agora recomeçar) e trabalhas (ou trabalhaste, ou queres trabalhar) na área do Design. Viste o meu espectáculo 'Lado C' em Junho de 2006 e foi aí que eu te conheci. A ti e ao [...], que era na altura o teu namorado. Depois fomos falando no messenger. E fomos criando uma intimidade virtual que na realidade (leia-se: presencialmente) julgo não existir. Mas se calhar é mesmo assim que tem que ser. Depois deixaste de ser namorado do [...] e comunicaste-mo via messenger. E eu achei que nunca ninguém tinha sido tão honestamente frágil comigo. Fiquei preocupado e achei que devia fazer alguma coisa. Depois tu decidiste fazer o meu workshop. Eu gostei do que tu fizeste e convidei-te para o projecto. Acho que és um pensador. [...]
[...] Penso que és um rapaz demasiado sensível e tens uma idade mental bastante inferior à idade biológica. Não te vou dizer quantos anos exactamente; tu ainda levas como insulto. [...] Para além disso, acho que escondes demasiadas coisas (boas ou más), não sei se por timidez (é o que se costuma dizer de pessoas como tu, mas eu não queria ser "banal"), ou então se por culpa do tal excesso de sensibilidade. Seja o que for, o que acontece é que ficas sempre com uma aura considerável de mistério à tua volta. Mas não te preocupes, isso até abona a teu favor. Acho que és bonito.
Hoje, no Royale, estavas incrivelmente frágil, quase tanto como no dia em que me disseste via messenger que já não eras namorado do [...]. Talvez seja essa a tua principal característica. És aquele rapaz que perante situações adversas fica do tamanho de um palmo. E porque escondes mais do que aquilo que mostras, fazes de conta que não estás a ouvir duas versões diferentes do "Ne Me Quittes Pas", na mesma tarde, no mesmo bar.
I start by writing down the doorway of the house we shared. I methodically photograph the whole process, the objects, the before and the after, the suitcases, the boxes, what you see from the window, the move, the trip, my stuff on my mother’s garage. And I write a lot. Writing this down made it more real. Why do I exhibit myself? Because a relationship was broken. What led me to exhibition was a communication flaw. I talk about this broken relationship with many people except with the one who broke it. I understand that I am ritualizing a situation to which I can’t react. I do my best to be surrounded by friends, I make up routines, I do and I publish, trying not to paralyse. I try to understand what I do and why. I keep on asking and I get more questions that help me understand some things. I understand that when I was a kid I wanted to be an artist (when I was 4, my mother said). I understand that the relationship I had filled it. I projected myself on the other. The other did everything I was supposed to do and the small things I did where for him. Now that I have nobody to project myself on, I decide to do and exhibit. I engage myself and when I finish (?) I feel fulfilled. I feel better or, at least, alive. Having a goal makes me feel alive, makes me feel better. I publish a blog that I already had and, at a given moment, it made sense to me to change its name. I decide to start again. I start to look for things that I had already done, I try to organise myself. I assume that I am an author exhibiting. It’s a kind of an attempt, in a way because I feel vocationally lost, in other way because many people suggested it. I write and I do things that not only are personal but also expose the other’s privacy. I’m shy and I chose what I publish. I am aware that others, and particularly the one who broke things up, may see what I publish, paint and stick over the walls on the street. I exhibit myself to me, to my friends, to the ones I don’t know and to the other. This exhibition is an attempt to communicate. I ask who I am, I ask for help and understanding, or mercy. I show to everybody that we are equals. I try to talk with the other. And, when I finish writing this text, I understand that my main goal is therapeutic. It does me well to do. Another goal was not letting love die, but overcome it.
Conception and Presentation: Artur Félix
Biography
Question: this is a generic e-mail, but if you got it it’s because somehow you are important to me. I’m in the middle of a complex growing up process (I think it’s called life), and I want your active participation. I would like to ask you something: Who am I? / What do you think about me? / How would you define me? You can answer or not. You can send me a word, a text, yours or from another person… You can draw or clip something out of a magazine. A embroidery, a cake…use your freedom. If you accept my challenge, send me your complete name, date of birth, qualifications, job and the answer to the question “When you were little, what did you want to be when you grew up?”, along with the final result. Thank you.
Artur Félix da Cruz
Answer: You are Arthur, you are 30 something, you study Architecture (you are going to start again) and you work (or worked, or want to work) in the area of Design. You saw my show ‘Lado C’ in June 2006 and that was when I met you. You and [...], who was your boyfriend at the time. From that moment on we started talking via messenger. We created a kind of virtual intimacy, that doesn’t really (I mean: effectively) exist. But maybe that’s the way things should be. Then, you stopped being [...] boyfriend and you said it to me via messenger. And I thought that no one had ever been so honestly fragile with me. I was worried and I thought that I should do something. Then, you decided to do my workshop. I liked what you did and invited you to participate in the project. I think you are a thinker.[...]
[...] I think that you are a too sensitive boy and your mental age is inferior to your biological one. I won’t say how old exactly; you would probably take it as an insult. [...] Besides, I think you hide too many things (good and bad), and I don’t know if it’s because your shy (It’s what we normally say about people like you, but I didn’t want to be so ‘trivial’) or if it’s because you are too sensitive. Whatever it may be, the point is there’s always an aura of mystery around you. But don’t worry, that’s good. I think you are pretty.
Today, at Royale, you were incredibly fragile, almost like the day you told me via messenger that you weren’t [...] boyfriend any more. Maybe that’s your main characteristic. You are that kind of boy that before adverse situations shrinks to the size of a hand. And, because you hide more than what you show, you pretend not to listen two different versions of "Ne Me Quittes Pas", that same afternoon, in the same bar.
Fotos Photos:
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